A paixão pela evangelização: o zelo apostólico do crente - 15. Testemunhas: Pe. Matteo Ricci
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Prosseguimos as catequeses falando sobre o zelo apostólico, isto é, aquele que o cristão sente para levar por diante o anúncio de Jesus Cristo. Hoje gostaria de vos apresentar outro grande exemplo de zelo apostólico: falámos de São Francisco Xavier, de São Paulo, o zelo apostólico dos grandes zelosos; hoje falaremos de um – italiano – mas que foi à China: Matteo Ricci.
Natural de Macerata, na região das Marcas, depois de ter estudado nas escolas dos jesuítas e de ter entrado na Companhia de Jesus, entusiasmado com os relatos que ouvia dos missionários entusiasmou-se, como muitos outros jovens, que sentiam o mesmo, pediu para ser enviado para as missões do Extremo Oriente. Depois da tentativa de Francisco Xavier, mais vinte e cinco jesuítas tinham procurado, sem sucesso, entrar na China. Mas Ricci e um dos seus confrades prepararam-se muito bem, estudando cuidadosamente a língua e os costumes chineses, e no final conseguiram estabelecer-se no sul do país. Foram necessários dezoito anos, com etapas em quatro cidades diferentes, antes de chegar a Pequim, que era o centro. Com constância e paciência, animado por uma fé inabalável, Matteo Ricci conseguiu superar dificuldades, perigos, desconfianças e oposições. Pensai naquele tempo, caminhar ou ir a cavalo, quantas distâncias... e ele ia em frente. Mas qual foi o segredo de Matteo Ricci? Por qual estrada o impeliu o zelo?
Ele seguiu sempre o caminho do diálogo e da amizade com todas as pessoas que encontrou, e isto abriu-lhe muitas portas para o anúncio da fé cristã. A sua primeira obra em língua chinesa foi precisamente um tratado Sobre a amizade, que teve grande ressonância. Para se integrar na cultura e na vida chinesas, num primeiro período vestia-se como os bonzos budistas, o costume do país, mas depois compreendeu que a melhor maneira era assumir o estilo de vida e os trajes dos eruditos, como os professores universitários, os eruditos vestiam-se: e ele vestia-se assim. Estudou profundamente os seus textos clássicos, a fim de poder apresentar o cristianismo em diálogo positivo com a sua sabedoria confucionista e os usos e costumes da sociedade chinesa. E isto chama-se uma atitude de inculturação. Este missionário soube “inculturar” a fé cristã em diálogo como os Padres antigos com a cultura grega.
A sua excelente preparação científica suscitava o interesse e a admiração dos homens cultos, a começar pelo seu famoso mapa-múndi, o mapa de todo o mundo então conhecido, com os diferentes continentes, que revela aos chineses, pela primeira vez, uma realidade fora da China muito mais vasta do que pensavam. Mostra-lhes que o mundo é maior do que a China, e eles compreendem – pois eram inteligentes. Mas também os conhecimentos matemáticos e astronómicos de Ricci e dos seus seguidores missionários contribuíram para um encontro fecundo entre a cultura e a ciência do Ocidente e do Oriente, que então viverá uma das suas épocas mais felizes, no sinal do diálogo e da amizade. Com efeito, a obra de Matteo Ricci nunca teria sido possível sem a colaboração dos seus grandes amigos chineses, como os famosos “Doutor Paulo” (Xu Guangqi) e o “Doutor Leão” (Li Zhizao).
No entanto, a fama de Ricci como homem de ciência não deve obscurecer a motivação mais profunda de todos os seus esforços: isto é, o anúncio do Evangelho. Ele, com o diálogo científico, com os cientistas, ia em frente, mas dava testemunho da própria fé, do Evangelho. A credibilidade obtida mediante o diálogo científico conferia-lhe autoridade para propor a verdade da fé e da moral cristã, que ele debate de modo aprofundado nas suas principais obras chinesas, como O verdadeiro significado do Senhor do Céu – este é o nome daquele livro. Além da doutrina, são o seu testemunho de vida religiosa, de virtude e de oração: estes missionários rezavam. Iam rezar, moviam-se, tomavam iniciativas políticas, tudo: mas rezavam. É a oração que alimenta a vida missionária, uma vida de caridade, ajudavam os outros, humildes, com total desinteresse por honras e riquezas que levam muitos dos seus discípulos e amigos chineses a aceitar a fé católica. Porque viam um homem tão inteligente, tão sábio, tão esperto – no sentido bom da palavra – para levar as coisas em frente e tão crente que diziam: “Mas, o que prega é verdade pois é dito por uma personalidade que dá testemunho: testemunha com a própria vida o que anuncia”. Esta é a coerência dos evangelizadores. E isto cabe a todos nós cristãos que somos evangelizadores. Posso recitar o “Credo” de cor, posso dizer todas as coisas que cremos, mas se a minha vida não for coerente com o que professo não serve para nada. O que atrai as pessoas é o testemunho de coerência: nós cristãos somos chamados a viver o que dizemos, e não fingir que se vive como cristãos e viver como mundano. Olhai para este grande missionário – como Matteo Ricci que é italiano – olhando para estes grandes missionários, vereis que a maior força é a coerência: são coerentes.
Nos últimos dias da sua vida, a quantos estavam mais próximos dele e lhe perguntavam como se sentia, Matteo Ricci «respondia que naquele momento pensava se eram maiores a alegria e o regozijo que sentia interiormente, com a ideia de estar prestes a empreender a sua viagem para ir pregustar Deus, ou a tristeza que lhe poderia causar deixar os seus companheiros de toda a missão que tanto amava, e o serviço que ainda podia prestar a Deus Nosso Senhor nesta missão» (S. DE URSIS, Relazione su M. Ricci, Archivio Storico Romano S.I.). Trata-se da mesma atitude do apóstolo Paulo (cf. Fl 1, 22-24), que desejava ir para o Senhor, encontrar o Senhor, mas dizia: “permaneço para vos servir”.
Matteo Ricci faleceu em Pequim, em 1610, com 57 anos, um homem que dedicou toda a vida à missão. O espírito missionário de Matteo Ricci constitui um modelo vivo atual. O seu amor pelo povo chinês é um modelo; mas o que representa uma estrada atual é a sua coerência de vida, o testemunho da sua vida como cristão. Ele levou o cristianismo à China; ele é grande porque é um grande cientista, ele é grande porque é corajoso, ele é grande porque escreveu muitos livros, mas sobretudo é grande porque foi coerente com a sua vocação, coerente com aquela vontade de seguir Jesus Cristo. Irmãos e irmãs, hoje nós, cada um de nós, perguntemo-nos no íntimo: “Sou coerente, ou sou um pouco assim-assim?”.
Fonte: Vaticano