• 2 de Julho de 2024

COMUNIDADES

Nossa Senhora das Graças

Desde 1948

Endereço: Trevo de Lajinha

Localidade: Cafarnaum

Nossa Senhora das Graças

História narrada por Nelson Lourenço Rodrigues

Há muito tempo, num terreno doado por Eugênia Emília Rodrigues juntavam-se pessoas entusiasmadas de diversos lugares num cercado pequeno de palmito, coberto com esteira de taquara, para rezar o terço em devoção a Maria Santíssima, que na maioria das vezes era animada por José Lourenço. Aquela época não existia celebrações da Palavra, apenas a oração do terço que é muito valorizada no mês de maio.

Com o passar do tempo, mais e mais pessoas se reuniam para rezar. Então a necessidade de adequar o espaço para comportar o maior número de pessoas fez com que iniciasse-mos as obras de renovação do pequeno cercado. Começou-se a usar esteios de madeira Braúna, dando inicio então a estrutura bruta de um templo.

Sempre houve muita fé, confiança, devoção à consagrada Nossa Senhora das Graças. Nos dias de coroação, vinham as virgens de lugares distantes em procissão cantando louvores e rezando o terço para coroar a Mãe da Igreja. Aaaah... O cântico! O cântico preferido do povo era aquele “... eu canto louvando Maria, minha mãe, a ela um eterno obrigado eu direi...”. O povo unido, diariamente doavam muitos leilões e tudo era leiloado no terreiro da igreja, sobre a luz da lua com uma forcinha de algumas tochas, pois não havia energia elétrica, mas isso não atrapalhava a alegria daquele tempo. Diante das dificuldades da época nos reuníamos por prazer, por fé pura e simples.

Sobre a ornamentação da igreja, as mulheres sempre delicadas se ajuntavam para plantar, colher flores para deixar o ambiente o mais alegre possível sobre a beleza das flores.

Conforme o tempo passava fomos economizando, juntando as doações que eram feitas e logo iniciamos a construção do templo com blocos de barro. Como não havia pedreiros, cada um fazia o que podia.

Sobre o nome Cafarnaum... Esta região já era denominada assim.

Sobre a padroeira... Diz-se... Que... Foi uma promessa da família Lourenço Rodrigues vinda do país de Portugal.

Sobre a imagem... Da imagem não sei de onde veio. Sei que ela chegou em Lajinha, estado de Minas Gerais. Sabendo disso juntamos um grupo de homens para podermos buscá-la e acredite, a pé! Pois aquela época não existia carro na comunidade. Lembro que... Fizemos um “banguê” – uma espécie de caixa, feita de madeira, com alça de couro – e amarrávamos nas costas. Cada um carregava um pouco, em revezamento.

O momento marcante foi a chegada da imagem na comunidade. Soltaram foguetes durante uma semana, fizeram festanças. Mas, o momento também era gravado pelo lado triste, o falecimento de Eugênia Emília Rodrigues. Pessoa pilar pelo crescimento e desenvolvimento da comunidade.

Sobre as missas... Tínhamos que ir a pé até a cidade de Iúna, estado do Espírito Santo, pois a época só tinha um padre para toda a região.

No ano de 1950 quando comprei o primeiro VW Fusca, comecei a buscar o padre naquela cidade para rezarmos a missa em Ibatiba, estado do Espírito Santo, sendo lá... uma vez por ano!

Naquele tempo os casais que queriam receber o matrimônio não precisavam fazer preparação, bastava querer e pronto! Só marcar a data. Custava cerca de 16 mil réis um casamento. Na maioria dos casamentos tinham as festas de comemoração. Faziam café debaixo das varandas, com diversas qualidades de doces, broas de melado, passavam-se dias preparando todo aquele banquete. Tudo aquilo que faziam era natural e da mesma forma era natural a força usada, pois como não existia máquinas elétricas para fazer o trabalho pesado, eram tudo feito a mão. Como casamento é um evento festivo, até o padre apreciava uma boa cachaça junto com o povo. Tudo elaborado e comemorado com muita responsabilidade, respeito e em perfeita harmonia. Comiam, bebiam, dançavam, brincavam...

Nelson Lourenço Rodrigues, 83 anos de idade, Comunidade de Cafarnaum, Nossa Senhora das Graças.

 

 

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