Os vícios e as virtudes. 5. A avareza
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Dando continuidade às catequeses sobre os vícios e as virtudes, hoje falamos da avareza, ou seja, daquela forma de apego ao dinheiro que impede que o homem seja generoso.
Não é um pecado que diz respeito unicamente às pessoas que possuem grandes bens, mas é um vício transversal, que muitas vezes não tem nada a ver com o saldo da conta corrente. É uma doença do coração, não da carteira.
As análises que os padres do deserto fizeram sobre este mal demonstraram como a avareza podia apoderar-se até de monges que, depois de ter renunciado a enormes heranças, na solidão da sua cela apegaram-se a objetos de pouco valor: não os emprestavam, não os compartilhavam e muito menos estavam dispostos a dá-los. Um apego a coisas pequenas, que tira a liberdade. Aqueles objetos tornaram-se para eles uma espécie de fetiche, do qual era impossível desligar-se. Uma espécie de regressão à idade das crianças, que se agarram ao brinquedo, repetindo: “É meu, é meu!”. Nesta reivindicação aninha-se uma relação doentia com a realidade, que pode levar a formas de apropriação compulsiva ou de acumulação patológica.
Para curar esta doença, os monges propunham um método drástico, mas deveras eficaz: a meditação sobre a morte. Por mais que uma pessoa acumule bens neste mundo, de uma coisa estamos absolutamente certos: que eles não caberão no caixão. Não podemos levar os bens conosco! Eis que se revela a insensatez deste vício. O vínculo de posse que construímos com as coisas é apenas aparente, pois não somos donos do mundo: na verdade, esta terra que amamos não é nossa, e movemo-nos nela como forasteiros e peregrinos (cf. Lv 25, 23).
Estas simples considerações levam-nos a intuir a loucura da avareza, mas também a sua razão mais recôndita. Ela é uma tentativa de exorcizar o medo da morte: procura seguranças que na realidade se desfazem no exato momento em que nos agarramos a elas. Recordais a parábola daquele homem insensato, cujo campo tinha oferecido uma colheita deveras abundante e que, por isso, se deixa embalar por pensamentos sobre o modo como ampliar o seu armazém para aí colocar toda a safra. Aquele homem calculou tudo, programou o futuro. No entanto, não teve em consideração a variável mais segura da vida: a morte. «Insensato - diz o Evangelho - esta mesma noite ser-te-á pedida a vida. E o que acumulaste, de quem será?» (Lc 12, 20).
Noutros casos, são os ladrões que nos prestam este serviço. Inclusive nos Evangelhos eles são citados várias vezes e, embora as suas ações sejam censuráveis, podem tornar-se uma admoestação salutar. Assim prega Jesus no sermão da montanha: «Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros a fim de os roubar. Acumulai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os corroem, nem os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar» (Mt 6, 19-20). Ainda nas narrações dos padres do deserto, conta-se a vicissitude de um ladrão que surpreende o monge durante o sono, roubando-lhe os poucos bens que guardava na cela. Quando acorda, sem se perturbar com o que tinha acontecido, o monge põe-se no encalço do ladrão e, quando o encontra, em vez de reclamar os bens roubados, entrega-lhe as poucas coisas que lhe restam, dizendo: “Esqueceste de pegar nisto!”.
Irmãos e irmãs, podemos ser senhores dos bens que possuímos, mas muitas vezes acontece o contrário: são eles que acabam por nos possuir. Alguns ricos já não são livres, nem sequer têm tempo para descansar, devem estar atentos porque a acumulação de bens também exige a sua guarda. Estão sempre ansiosos, porque um património se constrói com muito suor, mas pode desaparecer num instante. Esquecem-se da pregação evangélica, que não afirma que as riquezas em si são um pecado, mas certamente constituem uma responsabilidade. Deus não é pobre: é o Senhor de tudo, mas - escreve São Paulo - «de rico que era, fez-se pobre por vós, para que vos tornásseis ricos pela sua pobreza» (2 Cor 8, 9).
É isto que o avarento não compreende. Podia ser motivo de bênção para muitos, mas ao contrário acabou no beco sem saída da infelicidade. E a vida do avarento é terrível. Lembro-me do caso de um senhor que conheci na outra diocese, um homem muito rico, que tinha a mãe doente. Era casado. Um de cada vez, os irmãos tomavam conta da mãe, e de manhã a mãe comia um iogurte. Aquele senhor dava-lhe metade de manhã, para lhe dar a outra metade à tarde e poupar meio iogurte. É assim a avareza, é assim o apego aos bens. Depois, aquele senhor morreu e o comentário das pessoas que foram ao velório foi este: “Mas vê-se que este homem não leva nada consigo, deixou tudo”. E depois, com um pouco de troça, diziam: “Não, não, não podiam fechar o caixão porque queria levar tudo consigo”. É isto que, da avareza, leva os outros a rir: que no fim devemos dar o nosso corpo e a nossa alma ao Senhor, deixando tudo. Tenhamos cuidado! E sejamos generosos, generosos com todos e generosos com aqueles que mais precisam de nós. Obrigado!
Fonte: Vaticano