• 26 de Novembro de 2024

Os vícios e as virtudes. 12. A prudência

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

Dedicamos a catequese de hoje à virtude da prudência. Com a justiça, a fortaleza e a temperança, ela forma as chamadas virtudes cardeais, que não são prerrogativa exclusiva dos cristãos, mas pertencem à herança da sabedoria antiga, em particular dos filósofos gregos. Por isso, um dos temas mais interessantes na obra de encontro e inculturação foi precisamente o das virtudes.

Nos escritos medievais, a apresentação das virtudes não é uma simples enumeração das qualidades positivas da alma. Retomando os autores clássicos à luz da revelação cristã, os teólogos imaginaram o septenário das virtudes - três teologais e quatro cardeais - como uma espécie de organismo vivo, onde cada virtude tem um espaço harmonioso a ocupar. Há virtudes essenciais e virtudes acessórias, como pilares, colunas e capitéis. Sim, talvez nada mais do que a arquitetura de uma catedral medieval possa restituir a ideia da harmonia que existe no homem e da sua contínua tensão para o bem. 

Então, comecemos pela prudência. Ela não é a virtude da pessoa medrosa, sempre hesitante acerca da ação a empreender. Não, esta é uma interpretação errada. Também não se trata apenas de cautela. Conceder o primado à prudência significa que a ação do homem está nas mãos da sua inteligência e liberdade. A pessoa prudente é criativa: raciocina, avalia, procura compreender a complexidade da realidade, sem se deixar vencer pelas emoções, pela preguiça, pelas pressões das ilusões. 

Num mundo dominado pelas aparências, pelos pensamentos superficiais, pela banalidade, tanto do bem como do mal, a antiga lição da prudência merece ser recuperada.

No sulco de Aristóteles, S. Tomás chamava-lhe “reta ratio agibilium”. Trata-se da capacidade de governar as ações a fim de as orientar para o bem; por isso, é denominada “cocheiro das virtudes”. Prudente é quem sabe escolher: enquanto permanece nos livros, a vida é sempre fácil, mas no meio dos ventos e das ondas do dia a dia a situação é diferente, muitas vezes sentimo-nos inseguros e não sabemos para onde ir. Quem é prudente não escolhe por acaso: em primeiro lugar, sabe o que quer, depois reflete sobre as situações, deixa-se aconselhar e, com visão ampla e liberdade interior, escolhe o caminho a seguir. Não quer dizer que não possa cometer erros - afinal, somos sempre humanos - mas pelo menos evitará grandes disparates. Infelizmente, em todos os ambientes há quem tenda a descartar os problemas com piadas superficiais ou a levantar sempre polémicas. Ao contrário, a prudência é a qualidade de quem é chamado a governar: sabe que administrar é difícil, que há muitos pontos de vista e é preciso procurar harmonizá-los, que não se deve fazer o bem de alguns, mas de todos. 

A prudência ensina também que, como se costuma dizer, “o ótimo é inimigo do bem”. Com efeito, o excesso de zelo em certas situações, pode provocar desastres: pode arruinar uma construção que teria exigido gradualismo; pode gerar conflitos e mal-entendidos; pode até desencadear a violência.

A pessoa prudente sabe conservar a memória do passado, não porque tem medo do futuro, mas porque sabe que a tradição é uma herança de sabedoria. A vida é feita de constante sobreposição de realidades antigas e novas, e não é bom pensar sempre que o mundo começa a partir de nós, que devemos enfrentar os problemas a partir de zero.  E a pessoa prudente é também previdente. Uma vez decidida a meta a atingir, há que procurar todos os meios para a alcançar. 

São tantas as passagens do Evangelho que nos ajudam a educar a prudência. Por exemplo, é prudente quem constrói a casa sobre a rocha e imprudente quem a constrói sobre a areia (cf. Mt 7, 24-27). São sábias as donzelas que levam consigo azeite para as suas lâmpadas e insensatas aquelas que não o fazem (cf. Mt 25, 1-13). A vida cristã é uma combinação de simplicidade e astúcia. Preparando os seus discípulos para a missão, Jesus recomenda: «Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, pois, prudentes como as serpentes e simples como as pombas» (Mt 10, 16). Como se quisesse dizer que Deus não nos quer apenas santos, mas santos inteligentes, pois sem prudência é fácil errar o caminho!

Fonte: Vaticano

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