Dom Oriolo: Inteligência Artificial e decisões humanas

Mundo
- igreja católica
- inteligência artificial
- bispos
- Brasil
Dom Oriolo - Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG
A inteligência artificial (IA) já está discretamente integrada ao nosso cotidiano, transformando a forma como vivemos e oferecendo soluções inovadoras para desafios globais. Ela está invisivelmente incorporada em nossos equipamentos diários em sistemas tecnológicos complexos, otimizando processos industriais e acelerando a criação de medicamentos mais eficazes. Sua capacidade de realizar e analisar grandes volumes de dados em tempo recorde supera muito a habilidade humana.
Assistentes virtuais como Alexa, Google Assistant e Siri são exemplos notáveis da presença da IA em nosso dia a dia, facilitando tarefas e fornecendo informações rapidamente. Essa tecnologia aprimora a otimização de rotas e a identificação de pontos de interesse, melhorando a experiência de deslocamento nas cidades. Contudo, é crucial reconhecer que, embora essas ferramentas sejam excelentes, elas não substituem a inteligência humana.
A IA demonstra uma notável eficiência na execução de inúmeras tarefas e na resolução de problemas complexos, superando a precisão humana. Ao auxiliar e capacitar as pessoas, a IA contribui para uma melhor qualidade de vida. Quando utilizada de forma responsável, ela pode construir um futuro em que a tecnologia serve ao bem comum. Além disso, a IA é capaz de analisar expressões faciais não apenas para identificação, mas também para inferir emoções e coletar informações diversas.
Apesar dos benefícios, a evolução da IA pode resultar em diversas violações éticas. Isso se manifesta em sistemas como bots, que disseminam conteúdo ofensivo, algoritmos que filtram vídeos para crianças e assistentes virtuais que parecem possuir opiniões e até mesmo livre-arbítrio.
É fundamental reafirmar que o ser humano, à Imagem e Semelhança de Deus, tem primazia sobre qualquer exigência ou capacidade tecnológica. A tecnologia deve ser uma ferramenta a serviço da humanidade, não o contrário. Assim, enquanto a IA ajuda a resolver problemas e desafios, ela também pode agravar questões sociais já existentes.
A moralidade de uma ação, muitas vezes, reside em sua essência, e não apenas em suas consequências. Tomar decisões, especialmente aquelas com implicações éticas, é uma prerrogativa intrínseca à condição humana. Delegar essa responsabilidade a algoritmos é um caminho perigoso, baseando-se na suposição ingênua de que eles podem formular julgamentos morais robustos. Afinal, esses algoritmos são criações humanas, refletindo os vieses e as limitações de seus desenvolvedores. Portanto, as decisões finais e sua execução devem sempre permanecer sob o controle e a responsabilidade de seres humanos. Nesse caso, a compreensão do ser humano varia: alguns o veem como irresponsável (homem imoral); outros, como alguém que deve se libertar de qualquer responsabilidade (homem amoral); e outros, ainda, como totalmente responsável (homem moral).
A distinção entre o que a tecnologia pode fazer e o que ela deve fazer é evidenciada pelas grandes empresas de tecnologia. Google utiliza a IA como motor de busca, enquanto o Facebook a emprega para otimizar publicidade e marcação de fotos. Microsoft e Apple dependem da IA para seus assistentes virtuais, que se tornaram parte integrante do dia a dia. A onipresença da IA nessas plataformas ressalta a urgência de um debate contínuo sobre os limites e responsabilidades éticas no desenvolvimento e aplicação dessas tecnologias, garantindo que elas sirvam à humanidade.
Em suma, como enfatizado pelo Papa Leão XIV, as empresas de tecnologia que desenvolvem IA devem aderir rigorosamente a critérios éticos que priorizem o respeito à dignidade humana (cf. Mensagem Segunda Conferência Anual sobre Inteligência Artificial, Ética e Governança Corporativa, 20.06.25). Sua mensagem serve como um alerta essencial, assegurando que o avanço tecnológico não comprometa os valores e direitos inerentes à condição humana.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui
Fonte: Vatican News