Confira a homilia de Dom Luiz Fernando Lisboa na Festa de São Pedro 2025
Na Missa de São Pedro, o bispo diocesano, Dom Luiz Fernando Lisboa, CP, lembrou no último domingo, 29 de junho, que celebrar São Pedro é voltar às origens da Igreja, ao ponto em que fé e missão se encontram: “E o Evangelho de hoje nos leva exatamente para esse momento decisivo. Jesus faz uma pergunta fundamental — E vós, quem dizeis que eu sou? — e a resposta de Pedro se torna o alicerce da missão da Igreja.” (Leia abaixo).
Íntegra da homilia de Dom Luiz Fernando Lisboa:
Prezados irmãos e irmãs presentes aqui neste espaço celebrativo,
Prezados irmãos e irmãs que rezam conosco através dos diversos meios de Comunicação que transmitem esta Celebração Eucarística,
Prezados irmãos no episcopado a quem agradecemos pela comunhão,
Prezados presbíteros, diáconos, religiosos, religiosas, e demais autoridades presentes.
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
Hoje é um dia especial para toda a nossa Diocese de Cachoeiro de Itapemirim. Celebramos a Solenidade de São Pedro e São Paulo, de maneira especial, a São Pedro Apóstolo, aquele a quem Cristo confiou as chaves do Reino dos Céus, e também nosso padroeiro diocesano.
Celebrar São Pedro é voltar às origens da Igreja, ao ponto em que fé e missão se encontram. E o Evangelho de hoje nos leva exatamente para esse momento decisivo. Jesus faz uma pergunta fundamental — “E vós, quem dizeis que eu sou?” — e a resposta de Pedro se torna o alicerce da missão da Igreja.
Jesus está em Cesareia de Filipe, uma região pagã, distante do centro religioso de Jerusalém. Ali, ele pergunta aos discípulos o que dizem dele. Depois de escutar várias respostas — João Batista, Elias, Jeremias —, ele vai direto ao ponto: “E vocês, quem dizem que eu sou?”
Pedro responde: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” Essa não é apenas uma opinião. É uma profissão de fé que nasce da revelação do Pai. Jesus reconhece isso e diz: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja.”
Pedro, a rocha. Não por ser perfeito, mas por ser chamado. Jesus confia a ele as chaves do Reino, dá-lhe o poder de ligar e desligar — isto é, a autoridade de conduzir, discernir, edificar. Mas essa missão se apoia não na força de Pedro, e sim na graça de Deus.
A 1ª leitura dos Atos dos Apóstolos mostra isso com clareza: Pedro está preso, acorrentado, vigiado por soldados. E é Deus quem o liberta, enviando um anjo. Pedro é sustentado por aquele mesmo Cristo que o chamou.
Na 2ª leitura, vemos o outro pilar da Igreja: Paulo, que escreve no fim da vida, dizendo: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé.” E ele testemunha: “O Senhor esteve a meu lado e me deu forças.”
Pedro e Paulo: dois homens frágeis, humanos, mas que deram tudo pela missão. A força deles não estava neles mesmos, mas no Cristo que age por meio dos fracos.
Em comunhão com o Pedro de ontem e o Papa Leão XIX, Pedro de hoje. Neste ano de Jubileu, movidos pelo Espírito que conduz a Esperança, queremos e precisamos conduzir, discernir, edificar nossas Comunidades Eclesiais de Base, precisamos levar a cabo a edificação da Igreja como povo de Deus, no qual cada um exerce ofícios e ministérios, segundo os carismas e dons de Deus — algo reforçado com clareza pelo Concílio Vaticano II.
Precisamos compreender e praticar os ensinos desse Concílio, pois foi a partir daí se deu um aprofundamento do lugar que os batizados ocupam na Igreja e de sua responsabilidade na vida e no crescimento dela. Houve, portanto, o reconhecimento dos ministérios leigos, não somente por necessidade de suprir as lacunas dos sacerdotes, mas como direito natural em força do batismo e pelo sacerdócio comum dos fiéis, pelo múnus sacerdotal, profético e régio, próprio do nosso batismo, como aponta o Catecismo da Igreja Católica nos números 897 a 913.
O que tudo isso nos diz hoje, aqui, como Igreja diocesana?
Primeiro: a fé não é teoria. É resposta pessoal. Jesus continua perguntando: “E você, quem diz que eu sou?”
Nossa diocese não pode ser apenas uma estrutura pastoral. Deve ser uma comunidade de fé viva, que responde com coragem e fidelidade: “Tu és o Cristo.”
Segundo: Tem o compromisso de continuar a edificação da Igreja, como Pedro. E essa missão não é só do clero ou de alguns.
Todos somos chamados a seguir o exemplo de São Pedro. Todos os batizados, principalmente os chamados a cuidar.
Pensemos:
Somos mais de 1000 comunidades, com mais de 1000 Conselhos de Pastoral Comunitário. Cada CPC com cerca de 10 pessoas. Só aí, temos 10 mil batizados chamados a discernir, conduzir e edificar nossas Comunidades Eclesiais de Base, de maneira sinodal, como Igreja que nasce e transforma as bases onde se encontram.
E dentro dessas mil comunidades, temos:
- Milhares de Ministros Extraordinários da Palavra de Deus,
- Milhares de Ministros Extraordinários da Sagrada Eucaristia,
- Milhares de secretárias e secretários, tesoureiros e tesoureiros,
- Milhares de animadores de cânticos litúrgicos,
- Milhares de agentes nas diversas pastorais — do dízimo, catequese, liturgia, pastoral da comunicação, juventude, saúde, caridade…
Mas a missão vai além dos serviços internos da comunidade. Os leigos e leigas são chamados também a colaborar no governo paroquial e diocesano, participando ativamente de conselhos pastorais e conselhos econômicos.
E isso não como simples colaboradores do bispo e dos padres, mas como membros vivos e responsáveis da comunidade, assumindo ministérios e serviços para o engrandecimento da Igreja de Cristo.
A missão da Igreja vai além de celebrar sacramentos e manter estruturas.
Ela é, por essência, formadora de discípulos missionários, como nos recorda a Conferência de Aparecida.
Por isso, neste ano jubilar, convocamos todos vocês que assumem um lugar de liderança em nossas comunidades, em nossas pastorais, círculos bíblicos e movimentos:
Estejamos abertos à formação espiritual, à capacitação para melhor liderar, ao estudo da Sagrada Escritura, à compreensão do tempo, à busca de uma linguagem adequada para chegarmos aos corações famintos de Deus, da verdade do Evangelho e da implantação do Reino de Deus.
Quando a Igreja não forma líderes, ela falha em uma de suas tarefas essenciais: capacitar cristãos para serem agentes de transformação no mundo.
A crise de liderança na comunidade eclesial repercute fora dela. Quando um batizado não se preparar como líderar, quando um batizado falha no condução, no discerniento e na edificaçã nossas Comunidades Eclesiais de Base, colabora para que a realidade seja entregue as esferas de influência — política, economia, cultura, educação, família — a pessoas com valores alheios ao Evangelho ou a pessoas que usam o Nome de Deus em vão.
Um cristão comprometido não pode ser apenas alguém que “vai à missa no domingo”. A fé deve moldar toda a vida: o trabalho, os estudos, a maneira de liderar, de votar, de empreender. Lembremos: fé que não impacta a segunda-feira é fé pela metade.
A Igreja edificada por Pedro, não é uma associação de pessoas bem-intencionadas. Ela é uma comunidade sacerdotal. Isso significa que não estamos apenas “na” Igreja — nós “somos” Igreja, por uma realidade profunda, que vem da graça de Deus.
Alguns sacramentos — como o Batismo, a Confirmação e a Ordem — imprimem caráter, ou seja, deixam uma marca ontológica, ou seja uma transformação no ser, que estrutura a Igreja por dentro, em sua essência.
- O Batismo nos torna christifideles, fiéis, povo sacerdotal de Deus.
- A Ordem constitui os ministri, aqueles que exercem o sagrado ministério.
E juntos, formamos um só corpo com diversidade de vocações.
Há, portanto, uma unidade de missão, mas uma diversidade de serviços.
A missão da Igreja é anunciar Jesus Cristo para que todos se salvem.
Todos contribuem com o que são e com o que têm.
Como ensina o Concílio Vaticano II, os leigos, participantes do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, compartilham a missão de todo o povo de Deus na Igreja e no mundo.
“Já que é realmente característico do estado leigo viver em meio ao mundo e aos negócios seculares, são eles chamados por Deus para, abrasados no espírito de Cristo, exercerem o apostolado a modo de fermento no mundo.” (Apostolicam Actuositatem, n. 2)
Irmãos e irmãs, sonhemos juntos: uma diocese toda missionária.
Cada batizado olhando para o apóstolo Pedro como referência de fé vivida e assumida.
Cada pastoral não como um departamento, mas como expressão viva de comunhão e missão.
E sonhemos com mais:
- Com um diocese que comece e termine a sua ação pastoral focada nos pobres, nos necessitados como convocou o Papa Leão XIV.
- Paróquias que formam e enviam missionários leigos para suas realidades.
- Leigos preparados, conscientes de sua identidade, agindo como sal e luz em todos os ambientes da sociedade.
- Uma Igreja em saída, construída com o coração, a mente e as mãos de todos.
Sim, a missão é grande. Mas o Espírito Santo é maior. Assim como o Senhor esteve ao lado de Paulo, Ele está ao nosso lado.
Assim como libertou Pedro da prisão, Ele liberta também hoje a Igreja do medo, da estagnação e do comodismo.
Talvez, hoje, Jesus esteja dizendo a cada um de nós: “Eu te chamei para ser pedra viva. Sustenta comigo a Igreja. Não tenha medo.”
Que São Pedro interceda por nós para que encontremos o discernimento, a linguagem ideal para conduzir e edificar nossas Comunidades Eclesiais de Base, de maneira sinodal, como Igreja que nasce e transforma as bases onde se encontram.
Que a fé firme do Apóstolo Pedro nos inspire.
E que nossa diocese, construída sobre essa mesma rocha, continue sendo sinal vivo da presença de Cristo no mundo. Amém!
Assista:
Fonte: Diocese de Cachoeiro