• 16 de Novembro de 2025

Diocese acolhe professores moçambicanos para avaliação de intercâmbio que fortalece educação do campo

Diocese acolhe professores moçambicanos para avaliação de intercâmbio que fortalece educação do campo

Na manhã desta sexta-feira, 14 de novembro, a Cúria Diocesana de Cachoeiro de Itapemirim se encheu de sotaques, histórias e expectativas ao receber um grupo de professores moçambicanos para o encontro de avaliação do intercâmbio realizado com o MEPES (Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo). A atividade marcou o encerramento da imersão que trouxe ao Brasil sete participantes das Escolas Família Agrícola (EFAs) de Moçambique, que desde 17 de outubro percorrem comunidades, instituições de ensino e experiências agrícolas capixabas, permanecendo até o dia 20 de novembro.

O diretor do NEPES (Núcleo de Educação e Promoção Social do MEPES), que acompanha o grupo, destacou a amplitude da experiência. “Estamos vivendo um vasto programa de visitas e estágios nas escolas, nas famílias, nas comunidades, além de conhecer atividades agrícolas e não agrícolas, associações e cooperativas”, explicou. Segundo ele, o programa inclui ainda períodos de formação em pedagogia da alternância no Centro de Formação do MEPES, em Piúma. “É uma troca de experiências muito interessante. Brasil e Moçambique têm muitas coisas em comum, inclusive a língua, o que facilita nossa comunicação. Mesmo com realidades diferentes, buscamos fortalecer a educação do campo e o desenvolvimento comunitário lá em Moçambique.”

O momento contou com a presença do bispo diocesano, Dom Luiz Fernando Lisboa, CP, que dedicou quase vinte anos de sua missão àquele país africano. O reencontro com moçambicanos dentro da Diocese foi, para ele, motivo de emoção e alegria. “Foi um momento muito rico para mim, um momento de recordar Moçambique. Eles disseram as experiências, o que mais impactou, o que estão levando de aproveitamento. Essa troca de culturas e conhecimentos é muito importante para os dois povos”, afirmou o bispo. Ele reforçou ainda a motivação do grupo em aplicar o que aprenderam: “Eles voltam animados, porque alguns são professores. Vão implantar técnicas e experiências para o bem do povo e da juventude de lá”.

Entre os participantes estava o padre Carlos Serenéia, um dos professores moçambicanos, natural da província de Nampula, no norte de Moçambique, pertencente à Diocese de Nacala. Ele relatou que a estadia no Brasil tem sido de intensa aprendizagem e observação de práticas que podem ajudar a superar os desafios enfrentados pelas EFAs de seu país.

“Buscamos ter essa experiência na pedagogia da alternância, que é a prática das escolas de família, intercalar momentos na escola e na família. Isso é um tesouro para nós”, contou.

Padre Carlos explicou que a alternância, apesar de essencial ao modelo das EFAs, tem encontrado barreiras na realidade moçambicana. “Já implementamos anos atrás, mas questões legislativas e as distâncias entre escola e família tornam difícil a prática. Mantemos os estudantes na escola para evitar situações negativas, como violência e fome em casa. Por isso viemos aqui: para aprender como podemos ultrapassar essas dificuldades”, explicou.

Ele detalhou também a estrutura atual das EFAs em Moçambique: “Temos 18 escolas distribuídas pelo país. A primeira foi fundada em 2004. Há uma associação que monitora e acompanha nosso trabalho. Mas nos últimos anos a legislação exigiu que todas as escolas de família fossem elevadas ao ensino médio, com requisitos como trator e estufa. As que não conseguiram, fecharam ou viraram escolas de ensino geral. Com o ensino médio, a carga horária aumentou, e os alunos ficam internados quase todo o ano, sem poder ir às famílias. É o que temos vivido”.

O professor destacou ainda a alegria de reencontrar Dom Luiz Fernando Lisboa, figura bastante respeitada em Moçambique. “Eu já o conhecia. Minha diocese é vizinha da diocese onde ele trabalhava. Quando eu estava no seminário, ele visitava os seminaristas e assim o conheci. Ele já conhecia nossa realidade, nossa paróquia. Hoje tivemos a oportunidade de apresentar nosso trabalho e partilhar sobre educação. Ele nos recebeu de braços abertos. Foi um momento muito especial”.

Durante toda a permanência, os visitantes participaram de atividades de formação, estágios em escolas do MEPES, visitas a propriedades agrícolas, cooperativas e comunidades rurais. Acompanhados pelo diretor do MEPES, viveram uma rotina intensa de aprendizagem prática e diálogo com estudantes, educadores e famílias brasileiras.

O balanço do encontro na Cúria revelou a profundidade da experiência: os participantes retornam a Moçambique com novas técnicas, metodologias e inspirações para fortalecer a educação do campo e promover o desenvolvimento comunitário. Dom Luiz afirmou que a cooperação entre os dois países deve continuar, com possibilidade de envio de técnicos brasileiros para apoiar as EFAs moçambicanas.

“Poder continuar ajudando o povo de Moçambique me dá muita alegria. Tudo o que pudermos fazer para ajudar na educação, na dignidade e na valorização do moçambicano, nós vamos fazer. Eles viram experiências concretas nas comunidades, e isso ajudará muito. Ficamos de continuar esse contato, de enviar técnicos e pessoas que possam auxiliar. Eles passam por dificuldades que nós já passamos e agora veem que é possível superar e conquistar melhorias importantes para o povo.”

Fotos

Fonte: Diocese de Cachoeiro

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